Psicanalistas explicam a importância do objeto transicional ao longo do crescimento da criança.
Também conhecidos como objeto de transição, o objeto transicional é bastante comum na primeira infância e auxilia no desenvolvimento emocional da criança. Mas você sabe, ao certo, do que ele se trata?
O que é o objeto transicional?
Segundo a teoria de 1953 de Donald W. Winnicott, psicanalista e pediatra britânico, o objeto transicional é algo utilizado pela criança para substituir a ausência da família. Para ele, o indivíduo passa por uma transição impactante.
Isso ocorre porque nos primeiros meses de vida, o bebê ainda não possui consciência de que ele e a mãe são pessoas diferentes. Neste período, a mãe dá todo cuidado e atenção que o filho necessita a qualquer tempo.
Assim, com o apoio de seu genitor, o bebê vai criando confiança para conhecer o mundo ao seu redor. Após um tempo, porém, ele começa a ser capaz de se diferenciar do responsável.
Neste período, o genitor consegue estar mais distante do bebê, podendo deixá-lo mais tempo sozinho enquanto faz outras tarefas, por exemplo. Porém, quando o bebê percebe que está sem seu responsável presente, ele tende a buscar um objeto para suprir esta falta.
É aí que entra o objeto transicional! Sua função é representar a presença, conforto e apoio do genitor para o bebê quando este não estiver por perto e atenuar essa necessidade.
O desenvolvimento emocional da criança
O desenvolvimento emocional infantil envolve a aquisição de habilidades para comportamentos, temperamentos, expressão e controle dos sentimentos futuros. Estas serão baseadas nas experiências vividas pela criança e se formam nas suas primeiras fases da vida.
Vale destacar, que a fase de desenvolvimento a partir dos 8 meses de vida é uma das mais importantes do bebê. E é justamente nela que ele começa a desenvolver apego ao objeto transicional de sua escolha.
A partir disso, o bebê vai desenvolvendo características cognitivas importantíssimas.
Dos 9 aos 12 meses
Aqui bebê já compreende regras e imita rotinas sociais, Além disso, manifesta carinhos por meio de mimos e abraços, começa a desenvolver sua individualidade e já se reconhece por seu próprio nome.
Dos 13 aos 15 meses
Nesta fase, o bebê já aprecia o convívio social, desenvolvendo suas próprias relações sozinho (inclusive com o objeto transicional!). Por mais que ainda recorram aos pais para conforto e segurança, ele já está mais aberto e expressivo.
Dos 16 aos 18 meses
A esta idade, a criança já começa a construir sua autoconfiança e independência. Ele também já sabe diferenciar seus brinquedos e objetos favoritos dos demais, estando o objeto transicional incluso nesta lista.
Entre 1 ano e meio e 2 anos
Nesta faixa etária, as crianças reagem bastante aos ambientes emocionais em que vivem, percebendo as emoções das pessoas com as quais convive. Neste período elas também desenvolvem o sentimento de posse com seus objetos, sendo extremamente difícil o ato de compartilhá-los.
Estes bebezinhos também são bastante sensíveis à aprovação e desaprovação dos adultos. Por conta disso, não raramente esta acaba sendo a fase mais propícia para birras, alterações de humor e de comportamento.
Entre 2 e 3 anos
A partir desta faixa etária, a criança já está desenvolvendo seus movimentos corporais e falas de forma avançada. Nesta fase, a criança costuma imitar os comportamentos dos pais como um “espelho”.
Nesta fase emocional, a criança gosta de descobrir as coisas sozinho e deixa isso claro frequentemente. A impaciência também é uma característica comum nesta idade, assim como a inquietação e curiosidade.
Entre 3 e 4 anos
Se entre 2 e 3 anos a criança está desenvolvendo seus movimentos corporais, entre 3 e 4 anos a atividade motora é maior ainda: a criança brinca com seu objeto transicional, corre, pula e até sobe escadas sozinha.
Ela também tem o desejo de conhecer e experimentar quase tudo que vê e lhe chama atenção. É a fase do início da autonomia, onde também distinguem o que é certo e errado.
Emocionalmente, já compreende a maior parte do que ouve e consegue expressar parte do que sente em seu discurso para os adultos. Também utiliza bastante a imaginação e entende o conceito de quantidades.
Entre 4 e 5 anos
Aos 4 anos, a criança já é capaz de passar maiores períodos separada dos genitores. Assim, ela pode ir para a creche, a escola e a casa de familiares com maior facilidade. Em geral, ela já sabe controlar melhor suas emoções e começa a diminuir sua agressividade.
Este pequeno cidadão também consegue formular frases completas e corretas, com sua verbalidade desenvolvida. Sua capacidade de dividir e esperar sua vez ao brincar com outras crianças também está mais aguçada!.
O sentimento de estar no mundo também pode levar a criança a desenvolver medos neste período, ainda que não sejam grandes. Junto disso, elas tendem a se envergonhar facilmente e a demonstrar grande empatia pelos outros.
Além disso, as crianças nesta fase tendem a desapegar cada vez mais ou de uma vez de seus objetos transicionais.
O que deve ser o objeto transicional?
O objeto transicional deve ser escolhido pela criança, pois este terá grande valor emocional para ela e não para os pais.
Apesar de muito comum no desenvolvimento dos pequenos, é preciso salientar que nem toda criança tem a necessidade de um objeto transicional em seu desenvolvimento e isto não deve ser visto como um problema!
Nos casos em que ele se torna relevante para a criança, o objeto também auxilia a criança a lidar com ansiedade e possíveis frustrações, servindo de apoio emocional. Normalmente, o objeto pode acompanhar a criança até os 5 anos, podendo variar de acordo com a maneira com que o desenvolvimento emocional ocorre para cada indivíduo.
Normalmente, a criança carrega o objeto transicional para qualquer lugar que vai: seja ele um cobertor, uma fralda de pano, urso de pelúcia ou brinquedo.
É preciso respeitar este apego. Já que uma das funções do objeto é auxiliar em momentos importantes para a criança, como seu primeiro dia de aula e até mesmo na hora de dormir sozinha.
Benefícios do objeto transicional
Psicólogos e pediatras recomendam com frequência que a criança tenha um desses objetos. Afinal, eles trazem diversos benefícios para esta fase da vida. Dentre os benefícios observados, estão:
Auxílio à criança na hora de lidar com seus primeiros conflitos emocionais;
Desenvolver qualidades psíquicas como criatividade, cognição, afetividade e empatia;
Oferta de sensação de conforto, companhia, proteção e pertencimento;
Reafirmação do contato com o mundo externo.
Nunca é demais destacar: nessa fase inicial da vida, as criancinhas ainda estão encontrando suas próprias maneiras de lidar com seus sentimentos. E os objetos transicionais são peças fundamentais para isso. Respeite o tempo da criança!
Cuidados especiais
Na grande maioria dos casos, o apego ao objeto transicional é comum e até indicado por especialistas. Porém, algumas situações específicas podem necessitar da atenção dos pais.
A criança só quer brincar com seu objeto transicional
Caso a criança deixe de participar de atividades, preferindo brincar sozinha ao invés de brincar com colegas ou até mesmo somente realizando tarefas acompanhado do objeto, os pais devem procurar ajuda de algum especialista.
Em casos como esse, os pais ou responsáveis podem ajudar ao incentivar a criança a verbalizar seus sentimentos e emoções, de modo a auxiliar no desenvolvimento de sua inteligência emocional.
Especialistas também apontam que, quanto mais os pequenos conseguirem expressar seus sentimentos sem precisar do objeto transicional como ferramenta de comunicação, mais eles irão se desapegar do mesmo.
A criança anda com o objeto para todos os lados
Alguns pais se preocupam e até mesmo se incomodam ao ver seus filhos levando seus objetos transicionais para todos os lugares. Com atenção no decorrer do desenvolvimento emocional da criança, é possível tentar diminuir o uso deste apoio.
Não é recomendado que se tire o objeto das mãos da criança ou até mesmo o esconda, pois este ato se trata de uma retirada brusca de um item de grande valor emocional e segurança para os pequenos.
É preciso ir aos poucos. Começando por restringir o objeto para momentos em que a criança esteja dentro de casa ou somente no horário de dormir. Isto fará com que ela diminua seu uso ao longo do tempo e acelere seu aprendizado no que diz respeito à expressão de seus sentimentos.
Cuidados com o objeto transicional
É recomendado também que os pais tenham um objeto idêntico ao que a criança use, como forma de prevenção em caso de perda.
Este objeto “reserva”, por mais que não seja idêntico ao da criança em casos de desgaste e até mesmo no cheiro, serve para suprir um pouco da falta que a criança sentiria ao perdê-lo.
Ainda assim, mesmo munido de um plano B, é necessário prestar atenção em viagens e ao ir para a escola para que o mesmo não suma ou seja esquecido, causando uma angústia na criança.
O uso do objeto passou da hora
Não há um tempo certo para a criança abrir mão da companhia do objeto. De acordo com psicólogos, as crianças podem levar de 3 a 5 anos para não precisarem mais do objeto transicional.
Este tempo pode variar muito, tendo casos em que o pequeno “se libertou” do objeto antes do tempo estimado. A contrapartida também é verdadeira e existem pequenos que passam dos cinco anos de idade ainda apegados.
Cada criança tem seu tempo! Afinal, a relação com o objeto transicional se trata de uma condição emocional e não cronológica.
Porém, caso este objeto esteja impedindo a adaptação da criança aos ambientes e atrapalhando seu convívio social, é indicado que se procure orientação médica.
A criança não tem um objeto transicional
Neste caso, os pais não precisam se preocupar. Trata-se de uma situação completamente comum. Algumas crianças não têm a necessidade de um objeto que lhe passe segurança ao descobrir o mundo ao seu redor.
Possuir mais de um objeto
Também é completamente normal. Alguns pequenos aceitam um segundo e até terceiro objeto transicional caso o primeiro esteja fora de seu alcance.
Em alguns casos, eles podem até utilizar mais de um ao mesmo tempo. Por exemplo, a criança pode dormir com um dedo na boca e um paninho, sendo ambos objetos que a confortam.
Partes do corpo como objeto transicional
Algumas criancinhas optam por partes do corpo, tanto delas quanto dos pais, como seus objetos de conforto. Dedos, cabelo, cotovelo, orelha e outras partes, seja da criança ou de terceiros, são comumente associados pela criança como seu objeto de apego.
Entretanto, caso este apego seja excessivo, também vale consultar um psicólogo. Afinal, isso pode significar dificuldade do bebê em se desapegar dos pais.
O processo de desapego do objeto transicional tem de ser feito com calma e grande compreensão dos pais. Aos poucos, o filho entenderá os seus sentimentos e irá saber como expressá-los sem precisar de um objeto em mãos para isso.
Assim, quando ela se sentir pronta, ela enfrentará novas situações de diferentes formas, podendo substituir o objeto transicional por outro meio de expressão.