É comum alguns pais se sentirem inseguros nas situações em que o filho precisa de limites, uma aprendizagem indispensável para o desenvolvimento emocional e saudável da criança. A insegurança da mamãe e do papai pode ser desencadeada por diversos motivos, como sentimento de culpa por não estarem sempre por perto, acreditarem que não estão fazendo o que é certo, falta de concordância entre o casal e até mesmo a necessidade de negociar com a criança para evitar dizer “não” e deixá-la revoltada.
Sâmia Simurro, psicóloga e mestre em Neurociências e Comportamento, sugere que muitas vezes os pais têm a falsa sensação de que limites causam sofrimento à criança. “A dificuldade de tratar com a frustração ou até a revolta do filho e o conflito de não poderem estar com ele por conta do trabalho são alguns possíveis motivos que fazem que os pais, ao terem que impor limites, se sintam culpados e arrependidos. Por mais difícil que seja, o “não” é necessário, desejável e até saudável em determinadas situações. Para se sentirem mais seguros, os pais podem buscar orientações com profissionais especializados”, diz a especialista.
Como diminuir o sentimento de culpa?
Para diminuir o sentimento de culpa, a psicóloga aconselha que os pais compreendam que é preciso buscar um equilíbrio e que a imposição de limites não significa apenas dizer “não”. Impor limites pode ser um ato de amor que pode ajudar a criança a ter menos sofrimentos no futuro, colaborando para que ela evite se envolver em situações conflituosas mais tarde. “Tanto a mãe quanto o pai devem aceitar, de maneira consciente, a responsabilidade pelo desenvolvimento do filho. Lembrar que estão colaborando para um bom caminho do filho traz uma maior segurança quando o momento exige mais firmeza.”
Crise dos dois anos
Sâmia esclarece que na crise dos dois anos, conhecida como “adolescência do bebê”, a criança ainda não consegue lidar com frustrações. “Na fase dos dois anos, o filho não sabe expressar como se sente em determinadas situações. Por isso, reage com birra. Quando isso acontecer, os pais precisam se acalmar primeiro, reconhecer a emoção da criança e conversar com ela, para que os limites fiquem claros. É preciso que sejam firmes e não cedam apenas para acabar com a birra, mesmo que essa alternativa seja a mais fácil. O excesso de “sim” dentro de casa torna mais difícil para a criança lidar com “não” fora de casa, como na escolinha e nas relações com os coleguinhas”, complementa.
Avós
A palavrinha mágica na educação de uma criança é o bom senso. Os avós têm um grande desafio: entender os seus próprios limites nesse processo. “Eles precisam respeitar e entender que o melhor é permitir que os pais exerçam esse papel em relação ao netinho. Ajudar, dar opinião e até tomar decisões na ausência dos pais é saudável. Porém, respeitar e apoiar os pais em suas orientações quanto à educação é de fato a melhor ajuda para o bom desenvolvimento da criança. Para isso, os pais devem combinar a conduta”, aconselha Sâmia.
A seguir, confira as dicas da especialista para os pais sobre o assunto:
- Pais são amigos, mas sempre que for preciso, o papel de mãe e pai deve prevalecer.
- Corrijam o filho com amor, mas ao mesmo tempo sejam firmes.
- Sejam firmes em dizer “não”, mas não radicais!
- Procurem manter sempre a mesma orientação, pois o conflito deixa o filho mais confuso e inseguro.
- Na medida do possível, apoie e ensine a criança a resolver os seus problemas, em vez de tomá-los para si.
- Estejam atentos para entender as dificuldades do filho e ajudem o pequeno a enfrentá-las.
- Incentive um bom relacionamento entre os irmãos. Assim, ambos se sentem apoiados e fortalecidos.
Sâmia Aguiar Brandão Simurro é mestre em Psicologia na área de Neurociências e Comportamento, sócia-diretora da empresa SeR Psicologia e vice-presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV).