Refluxo é o termo usado quando o alimento que está no estômago volta até o esôfago, às vezes até a boca. O nome completo do problema é refluxo gastroesofágico. Para entender o refluxo, é preciso entender o diafragma, o músculo que separa a cavidade torácica da cavidade abdominal do corpo, e que é importante para a respiração. Há um orifício nesse músculo, por onde passa o esôfago, que então se liga ao estômago.
O esôfago fica dividido em duas porções: uma mais longa, no tórax, e outra bem mais curta, embaixo, na cavidade abdominal. É nesta última que se estabelece o mecanismo que funciona como uma válvula. Esse mecanismo é composto por vários elementos, e o mais importante deles é o esfíncter inferior do esôfago, composto por feixes de musculatura lisa, que permitem o fechamento do esôfago, impedindo o refluxo (volta) do conteúdo do estômago.
Também atuam nesse "isolamento", entre outros, a roseta mucosa, feita de fibras elásticas que fecham a comunicação entre estômago e esôfago, e o ligamento frenoesofágico, que fixa o conjunto todo ao diafragma. Às vezes, porém, esse complexo mecanismo de válvula não funciona como deveria. É o que acontece durante a gravidez. Um dos motivos de as mulheres terem azia quando grávidas é que o bebê pressiona essa válvula, que permite a subida do ácido do estômago até o esôfago.
O problema também acontece em bebês, mas no caso deles o motivo é que boa parte dos mecanismos descritos acima ainda não funciona completamente, principalmente o esfíncter inferior, que não está completamente maduro. Ao longo do primeiro ano do bebê, o esfíncter vai ficando cada vez mais forte e diminui a propensão da criança ao refluxo.
Cerca de 50% de todos os bebês apresentam algum tipo de refluxo, mas apenas em uma pequena porcentagem ele se torna um problema sério. Aos 10 meses, somente cerca de cinco por cento dos bebês ainda sofre com o refluxo.
Quais são os sintomas?
O bebê pode regurgitar um pouco de leite depois de mamar ou ter soluço. Pode ser que às vezes ele tussa depois de regurgitar, como se o leite tivesse entrado pelo "buraco errado". Isso tudo é normal e esperado, por isso, se seu filho não tiver nenhum outro sintoma, não há com o que se preocupar.
Só mantenha uma fraldinha ou paninho de boca sempre à mão para emergências, e não se esqueça de colocar uma blusa extra para você na sacola do bebê, para o caso de um "acidente".
Você deve conversar com o pediatra sobre as regurgitações se:
seu bebê parecer não estar ganhando peso;
o bebê chorar muito sempre depois de mamar;
ele estiver vomitando com muita frequência;
ele começar a ter muita tosse;
ele ficar irritado, curvando-se para trás, depois de mamar.
Vale a pena tentar algumas medidas simples para ver se o problema melhora, como manter o bebê em posição ereta por 20 minutos depois de cada mamada e elevar um pouco a cabeceira do berço.
Outra estratégia é aumentar a frequência das mamadas para diminuir a quantidade de leite em cada uma delas — às vezes os bebês mamam demais de uma vez só, o que acaba provocando vômitos.
Existe algum outro tratamento?
Nos casos mais graves, o pediatra pode receitar antiácidos, medicamentos antirrefluxo, produtos para engrossar um pouco o leite ou fórmulas antirrefluxo já prontas. Só use esse tipo de tratamento sob a orientação do médico. Talvez o pediatra prefira encaminhar o bebê para um gastroenterologista, que pode prescrever outros tipos de medicamentos.
Crianças só são tratadas quando o refluxo realmente atrapalha a vida delas. Existem bebês que simplesmente regurgitam mais que os outros, mas não têm nenhum outro desconforto e se desenvolvem normalmente. Nesse caso, o tratamento não é necessário.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico pode ser apenas clínico, ou seja, baseado no exame físico do bebê e na descrição dos sintomas. Existem outros exames para investigar o refluxo, como um raio X do sistema digestivo (o bebê precisa tomar um contraste).
O refluxo é grave?
A maioria dos bebês se cura naturalmente do refluxo com até um ano, à medida que o músculo do esfíncter vai se fortalecendo. Mas isso não quer dizer que o problema não seja sério.
É importante acompanhar atentamente o ganho de peso de bebês com refluxo. Alguns bebês não engordam o suficiente porque não conseguem manter muito leite no estômago, e outros acabam perdendo o apetite por causa do desconforto causado pelo ácido.
Existe também o risco de desenvolver esofagite, uma inflamação da mucosa do esôfago que pode ser persistente e provocar problemas mais sérios no futuro.
Se a regurgitação ou o vômito entrarem no sistema respiratório, o bebê pode adquirir problemas como pneumonia, tosse persistente à noite, sinusite (em crianças maiores) ou otite, por isso é bom ficar de olho em sinais dessas doenças. O ácido estomacal também pode prejudicar o esmalte dos dentes da criança.
Em casos raros, o conteúdo gástrico não chega a sair na forma de regurgitação, mas fica entrando nas vias respiratórias, causando problemas. Por esse motivo, no caso de infecções respiratórias recorrentes ou tosse, a possibilidade de refluxo deve ser levada em conta.
Mais que tudo, o refluxo pode dificultar muito a vida da família toda, pois os pais não conseguem aliviar o desconforto da criança, além de terem de lidar com o estresse de alimentá-la e mantê-la limpa. O consolo é lembrar que o refluxo vai embora sozinho, e um dia a choradeira, o cheiro de azedo e as constantes fraldinhas sujas serão apenas lembranças distantes no seu passado.